Page 24 - 2010_02_20_Nascendo_no_Lotus_-_Retiro_Araras_Maio_2009
P. 24

Lama Padma Samten – Nascendo no Lótus


            O budismo como remédio

            Nós temos uma tendência a reificar, que acredito estar ligada à tradição bíblica, ou seja, tudo aquilo
            que é falado na bíblia é sagrado em si mesmo. O ensinamento budista é um remédio, não é algo que
            tenha a perfeição em sua forma, ele tem uma perfeição na sua origem. Nesse sentido temos o ideal
            de abandonar aquilo, é como se na tradição bíblica houvesse o ideal de mesmo encontrando Deus,
            abandonar a bíblia. Acredito que S. Francisco de Assis chegou a isso, porque ele não portava nem a
            bíblia, aquilo era como se fosse um orgulho, um pouco agressivo levar a bíblia.  Mas ele se contentava
            em estar em contato com o Cristo vivo. Assim é no budismo, nós temos a conexão com a natureza
            primordial e não precisamos de um conjunto de métodos. Estamos numa condição em que se pode
            aprender o conjunto de métodos. Maravilhoso! Temos o legado de outros mestres que os trouxeram,
            mas todos são como uma farmácia, para serem abandonados. Todas as tradições reveladas precisam
            de um registro, de uma memória, então aquilo precisa ser congelado e elevado. O ponto principal é:
            como traduzir isso, onde encontrar a versão final e perfeita? Não se compreende a noção da
            vacuidade da linguagem, do aspecto inseparável de quem lê daquilo que é lido, da coemergência que
            brota disso. Aí surgem muitas interpretações, e dependem de um corpo de doutores para distinguir, e
            aí segue... Mais um concílio, e vai indo, muda o tempo todo. É bem complicado. O budismo vem com
            uma base daquilo que estamos usando, é método, é teoria, ele se dá muito bem com a ciência. A
            ciência é mais apegada, eu diria.





            Cognição e energia


            Estamos no ponto da construção da mandala. Pela manhã trabalhamos o ponto de ver a importância
            de estar preventivamente na mandala e tentar encontrar uma dimensão de sabedoria, e não o
            mecanismo de se defrontar com o problema. E então existe uma sabedoria cognitiva que pensa, da
            qual tentamos nos valer nos lembrando; e outra sabedoria da própria mandala: se estamos dentro da
            mandala, a sabedoria e a energia vêm de acordo. Se não estamos ali dentro mesmo a sabedoria nos
            parece meio estranha, se estivermos numa outra paisagem que não seja de sabedoria. Estávamos
            vendo o recurso que podemos usar através da disciplina. Vemos que a disciplina é um pouco
            problemática, ela se desgasta com o tempo. Agora quero introduzir este elemento que vem depois de
            reconhecermos o lodo, a água, o talo, a flor, aí surgimos e podemos perguntar: o que faço agora? Essa
            solução é a prática dos Diani budas. Vamos tentar penetrar nisso.






            Os cinco Diani budas

            Vamos olhar os cinco Diani budas, lembrando que a origem deles se dá posteriormente ao Buda
            Sakiamuni. Na época do Buda Sakiamuni as pessoas tinham a própria imagem do Buda. Os alunos do
            Buda tinham o Buda diante deles, já imaginaram? O próprio Buda! Ocorre que, quando o Buda passou
            para o parinirvana ele desapareceu em presença física, mas curiosamente, as pessoas praticantes
            visualizavam o Buda e as bênçãos da presença do Buda surgiam de novo. Com o tempo eles


            CEBB - Retiro Araras – maio 2009                                                            24 / 43
   19   20   21   22   23   24   25   26   27   28   29