Page 34 - O vilarejo das flores
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religarmos a Ela. Cada um tem o seu jeito: conversando, orando,
        parando um momento em algum lugar que você goste muito, fechar

        os olhos e esperar uma resposta.
        —Você faz isso?
        —Sempre. Por isso venho aqui para admirar a natureza. Sinto-me
        em paz estando entre as flores e os animais. Quando estou chateada,

        venho para cá e fico feliz em instantes.
        —Não consigo ter essa paz. Meu pai nos irrita muito em casa. De vez
        em quando brigamos.
        —Porque não tenta tirar um momento por dia para conversar com

        Ela? Acho que iria te fazer bem.
        —Não sei se consigo, também não tenho tempo. Estou aqui agora,
        em casa só trabalho.
        —E na hora que você vai se deitar?

        —Eu durmo – disse ele com um sorriso.
               Aimeé ficou um pouco hipnotizada pelo sorriso dele,
        rapidamente voltou a si e continuou:
        —Antes de dormir só agradeça pelo dia. Comece assim.

        —Vou tentar me lembrar. Mas não vejo solução no meu caso. O
        que pode mudar se eu apenas acreditar em um Deus que nunca vi e
        nunca fez nada de bom na minha vida?
        —Nada de bom? Sua mãe morreu sim, mas se você prestar atenção

        vai ver quantas coisas boas você tem.
        -—Coisas boas? - debochou – Vamos enumerar: um pai que me
        agride verbalmente, um casebre, pessoas me cobrando as dívidas do
        meu pai o tempo todo e se não trabalhar eu não posso comer. Coisas

        boas só existem para os ricos. – disse ele olhando fixamente para ela.
        —Não é assim! Você resiste a tudo.  A vida tem desafios onde quer
        que estejamos. O pobre tem desafios, o rico tem outros desafios,
        a mulher, o homem.  Podem  ser diferentes, mas  cada um tem  os

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